quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A outra história da Barbie - crítica Leonardo Simões

a) Relação entre a proposta apresentada na ficha de inscrição e o que foi percebido em cena:
A proposta escrita basicamente descreveu os recursos da cena. Tal despretensão foi vista na apresentação, embora com grande resultado cômico devido aos elementos que analisamos a seguir.

b) Questões acerca da dramaturgia:
As bonecas Barbie e Suzi conversam, bebem e fumam, enquanto Skipper vai sair para uma festa do pijama. Da discussão entre Barbie e Skipper a respeito de seus limites, surge a revelação de que Skipper na verdade é filha de Barbie. Também participa da cena o Ken, cuja sexualidade é colocada em dúvida por estar levando escondido um vestido da Barbie para seu week-end em Malibu.
O texto é um encadeamento de citações que misturam situações típicas das brincadeiras de bonecas com questões da vida em carne e osso. A sátira direta funciona bem, com créditos à sua origem: o quadro do programa norte-americano Saturday Night Live (uma espécie de Zorra Total, com humor baseado em quadros caricaturais, bordões, etc.). O maior trunfo é a grande identificação com os espectadores, que vêem colocadas em cena as brincadeiras de duplo sentido que certamente já fizeram ao brincar com as bonecas que foram ícones de várias gerações.

c) Sobre a linguagem cênica e as referências utilizadas:
A cena se realiza de modo simples, com uma intenção de conferir à cena o tom cor-de-rosa e o clima artificial dos cenários de bonecas. O maior valor está na atenção que foi dada à movimentação enrijecida das personagens, que impõe o teatral numa cena cotidiana que talvez não tivesse maior interesse, a não ser pelo fato de que são bonecas e não pessoas. Para tanto, foi fundamental o fato de todos, diretora e atores, levarem essas características às últimas conseqüências, constituindo um código de comunicação com a platéia, que foi proposto e respeitado do início ao fim. Daí também decorre um momento de grande comicidade em que a flexibilidade das pernas plásticas é levada ao exagero: através de um truque de contra-regragem, Barbie e Skipper comparam sua elasticidade, levando suas pernas até os ombros. É um efeito cômico visual que, assim como o apuro na movimentação, conferiu à cena algo mais do que a mera sátira textual, ainda que sem maiores pretensões.

d) Quanto à interpretação:
As atuações correspondem aos clichês pretendidos e, por vezes, não parecem interpretações feitas por atrizes e ator, mas uma espécie de brincadeira que poderia ser feita por qualquer um. O único elemento que contradiz essa impressão é o já citado apuro na movimentação das bonecas. Mas, em todos, nota-se a inexperiência e o pouco domínio do tempo cômico. Falta qualidade técnica às vozes do elenco, que poderiam ser um pouco mais expressivas, marcando melhor o trabalho interpretativo e tirando maior proveito da comicidade. Nada disso, entretanto, prejudicou a eficácia da cena.

e) Sobre outros recursos expressivos utilizados:
Como já citado acima, destaco a contra-regragem das pernas falsas atrás do sofá.

f) Comunicação cênica:
O público gargalhou bastante com a sátira apresentada, assim como pelos limites pela tentativa de humanização das bonecas.

g) Comentários gerais:
Esse esquete trouxe para o Festival o elemento do inesperado, do inusitado que agradou pela assumida despretensão.

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