segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Os Caoseiros - Análise crítica de Leonardo Simões.

a) Relação entre a proposta apresentada na ficha de inscrição e o que foi percebido em cena:
A proposta escrita já trazia a simplicidade e a intenção de uma cena colada na realização do texto, com o único objetivo de rir através dos tipos, do exagero das falas e do fecho cômico.

b) Questões acerca da dramaturgia:
Amigos ricos em torno de uma mesa revelam suas memórias do tempo em que eram pobres e, como forma de competição, vão exagerando gradativamente as condições de suas próprias misérias do passado. Após chegarem ao cúmulo do exagero, em que um deles revela algo como “morar com seus 300 irmãos em cima de uma folha de alface podre”, o anfitrião, que se mantivera mudo e rindo por todo o tempo, revela que sua miséria era a pior de todas: ele viera de São Gonçalo.
Trata-se de um quadro cômico baseado numa espécie de anedota, que tem sua graça pelo exagero cumulativo. É uma cena do Fernando Caruso inspirada, segundo consta na ficha, no grupo inglês Monty Python, cuja principal característica era a crítica social com abuso do non sense.
Calcada meramente em clichês e tendo como base das personagens a assumida mentira em suas revelações, o texto segue a estrutura de uma anedota sem acrescentar nada além da oportunidade de pequenas caracterizações e a provocação do riso pelo crescente exagero. O recurso para encerrar a cena, cujo ritmo crescente de absurdos poderia não ter fim, é uma brincadeira de cunho local (é comum em Niterói uma certa crítica à cidade de São Gonçalo, como talvez se pudesse referir a Niterói, caso a cena fosse realizada no Rio de Janeiro). Gancho óbvio para um efeito cômico e só isso.

c) Sobre a linguagem cênica e as referências utilizadas:
A referência ao Grupo Monty Python fica mesmo só na relação com o texto e com certo ar de falsa “nobreza” com que os atores daquele grupo costumavam ridicularizar a empáfia britânica.
Mesmo a referência à linguagem non sense fica um pouco restrita, uma vez que os absurdos citados são estranhados em cena, porém assimilados como cumplicidade de um jogo que é dos próprios personagens, que mentem como mecanismo de competição, e não um jogo da cena como linguagem.

d) Quanto à interpretação:
As atuações correspondem ao que a cena pede em sua simplicidade. Mas são “realizações” que poderiam ser feitas por qualquer um, fosse ator ou não. Com a estrutura baseada numa única anedota, a cena não permite maiores interpretações e seus realizadores também parecem não ter pretendido nada além do que o riso já previsto.

e) Sobre outros recursos expressivos utilizados:
Objetos funcionais, mesas e cadeiras para criar de modo realista o ambiente em que se desenrola a conversa. Figurinos que acentuam os personagens clichês.

f) Comunicação cênica:
Como costuma ocorrer nessas cenas de puro divertimento, já bastante veiculadas pela televisão em programas do tipo Zorra Total, o público riu bastante, sobretudo no fecho da cena, pela já programada identificação com a crítica à cidade vizinha.

g) Comentários gerais:
Nada a acrescentar.

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